domingo, julho 10, 2011

"Sabrina" - Sentimentos com desejos?


Sentimentalismo é afrodisíaco. Talvez por isso seja tão prazeroso experimentar ou conviver com pessoas que são propensas ao romantismo — para quem duvida, não existe nada mais gostoso que o desejo aliado do sentimento. Nada mais excitante que as descobertas do sentimento, das buscas pela paixão que tanto mexe com os ímpetos humanos, ou mesmo as sensações vivenciadas pelo coração do apaixonado. Nada melhor que desejar alguém que se ama. Audrey Hepburn foi uma bela representante da mulher que ama. Suas interpretações no cinema comprovaram o quão sentimentalista era, seus personagens mantêm essa aura romântica, a sensibilidade feminina que jamais seca, pois é imortal. Sabrina, filme dirigido por Billy Wilder, sob roteiro baseado na adaptação famosa de Samuel A. Taylor, é uma produção que reflete bem essa disposição “amorosa” da atriz quanto à personificação. Audrey é a personagem-título, uma jovem pobre, sonhadora, filha do chofer de uma importante e bilionária família de Nova York. Sabrina cresceu no meio dessa família de poder, riqueza e muitas festas. Desde pequena, apaixonada por um dos filhos da família Larrabee, David (William Holden), que nem a percebe — como ser notada por alguém que parece só enxergar a condição social? O que fazer para conquistar o homem dos sonhos? Quando a jovem parte para Paris, e retorna dois anos depois, é que o destino traça novos contornos. Sabrina volta com atitude, charme, sofisticada e com muito glamour. É então que não só David, mas também seu oposto irmão, Linus (Humphrey Bogart), tratam de conquistar o coração da graciosa mulher.


A grande tensão no filme é justamente na questão do desejo e sentimento vivenciado pela personagem. Sabrina nutre uma admiração, quase um tesão incondicional, pelo rapaz que sempre sonhou, desde pequena — é a típica história romântica da mulher que não esquece o primeiro amor, por não consegue conquistá-lo, nem mesmo dar voz ao seu sentimento. O filme coloca a dimensão dessa paixão forte vivenciada pela moça que até tenta se matar por conta de não conseguir expressar seus desejos a um homem de condição oposta, típica situação da rejeição tão comum entre adolescentes. Após voltar de Paris, Sabrina torna-se o centro de disputa e desejo não só de David, mas pelo irmão mais velho Linus, que não esconde suas intenções maliciosas e afetivas por ela.

A questão do desejo e do sentimento são traços que causam confusões na trama: em dado momento, indaga-se se os dois irmãos nutrem algum sentimento real por Sabrina ou apenas a beleza dela, a feminilidade que fomenta o desejo, é capaz de atrair os dois sujeitos. E existe também uma indisposição frequente que acomete e fragiliza a personagem principal: Sabrina passa a duvidar do que sentia por David quando seus sentidos são direcionados mais à companhia de Linus. O filme evidencia esse triângulo, com muito charme, romance e diálogos melosos que tanto dignificaram a obra de Billy Wilder, que hoje é sinônimo de delicadeza cinematográfica. Interessante que o roteiro coloca a relação de Sabrina com David como sendo mais carnal, de acordo com o posicionamento comportamental do personagem bem interpretado por William Holden — seu David é paquerador, mulherengo, imaturo e machista. Já Humphrey Bogart personifica um Linus mais carinhoso, cavalheiro, sério, que estabelece as cenas de gentilezas mais amorosas com Audrey Hepburn. Qual caminho Sabrina tomará? Qual dos dois homens ferve e aquecerá seu coração carente?

Sem ter envelhecido, a fita ainda mantém o senso charmoso e tão romântico que é abordagem necessária a todos. Audrey Hepburn, com seu talento tão preciso e incontestável, aqui neste filme consegue ser ainda mais graciosa — e até sensual, como na cena em que sua Sabrina lava o carro do pai de shortinho ou quando ela empresta sua voz nervosa às frases passionais de sua personagem apaixonada, que não vive sem a paixão. A dupla Bogart e Holden são exemplos de interpretações masculinas de encanto e beleza; ambos concentram todo o desejo em Hepburn. Talvez, o filme fosse mais ousado caso fosse produzido no senso atual, porém ainda não perdeu seu valor após tantos anos de lançamento. Destaque para os tons da fotografia que se auxilia do belo figurino, vencedor do Oscar nessa categoria, e para a trilha sonora que usufrui da música La Vi En Rose como pano de fundo musical para essa inebriante história de amor e sedução clássica. É puro fascínio, altamente recomendável!
Matéria do Blog : Apimentário

Um comentário:

  1. Um dos meus filmes favoritos de Audrey. Assisti inúmeras vezes. E nunca sei ao certo se ela deve ficar com Holden ou Bogart...

    O Falcão Maltês

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